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A literatura comparada como exercício democrático

Elena Brugioni fala sobre pós-colonialismo e pós-modernismo na perspectiva da literatura comparada, vertente que guia sua pesquisa em crítica literária em busca de caminhos não-hegemônicos

Texto por Luisa Ghidotti Souza

Literaturas africanas comparadas é um livro da professora Elena Brugioni que traz à área da crítica literária uma proposta de análise pouco explorada no Brasil. A autora chegou à Unicamp em 2016 para ministrar disciplinas em literatura africana na graduação dos cursos de Letras e Estudos Literários. A obra oferece grande contribuição, não só para a formação dos estudantes, mas também para as discussões sobre literatura comparada e estudos pós-coloniais, que vêm alcançando maior visibilidade no Brasil. Como nos mostra Brugioni, as pesquisas sobre esse tema vêm sendo conduzidas, em todo o mundo, com especial atenção ao tema do pós-colonialismo.

A recente obrigatoriedade do ensino de cultura e literatura africanas nas escolas brasileiras amplia o interesse pelo assunto. Como nos mostra Brugioni, as pesquisas em literatura africana vêm sendo conduzidas por pesquisadores, em todo o mundo, com especial atenção ao tema do pós-colonialismo, e discorre sobre alguns pontos relevantes para a esse tipo de análise aplicada aos romances históricos africanos. Literaturas africanas comparadas  é finalista na categoria Línguas, Letras e Artes, do Prêmio ABEU 2020, da Associação Brasileira de Editoras Universitárias.

Editora da Unicamp: Para além do amparo teórico para a sala de aula da graduação, quais outras contribuições Literaturas africanas comparadas pode oferecer à área de crítica literária no Brasil?

Elena Brugioni: O livro é fruto de um percurso de estudo que tenho desenvolvido nos últimos anos, e a ideia principal foi reunir trabalhos e reflexões que pautam minha trajetória acadêmica no âmbito da pesquisa e da docência. As obras literárias analisadas no livro, bem como os tópicos críticos e as problematizações teóricas abordadas, pretendem estabelecer um diálogo com os debates que configuram os campos das Literaturas Africanas, da Literatura Comparada e dos Estudos Pós-coloniais em diversos contextos acadêmicos e institucionais, não apenas de língua portuguesa. Neste sentido, penso que a contribuição do livro, além de trazer para a sala de aula alguns dos mais canônicos e recentes debates críticos que pautam estes campos de estudo, é apresentar discussões e propostas que estabelecem um diálogo com problematizações teóricas matriciais que configuram as críticas literárias contemporâneas no âmbito dos estudos recentes sobre romance africano, do debate crítico comparatista sobre sistemas literário e literatura-mundial e das cartografias teóricas pós-coloniais, dentro e fora do Brasil. A literatura como sistema e alegoria nacional, ou ainda, como registro social e político, a relação da escrita literária com a modernidade e o capitalismo global, os temas da oposição e da resistência às narrativas coloniais e imperiais que pautam o romance africano contemporâneo, a relação entre escrita literária, história, memória e futuro em diversos contextos e situações pós-coloniais são algumas das questões desenvolvidas no livro. O contraponto entre línguas e tradições intelectuais, áreas de estudo, campos disciplinares e geografias críticas distintas são algumas das diretrizes teóricas e metodológicas que procurei seguir neste ensaio cujo objetivo primordial é o de pensar as literaturas africanas e suas possíveis cartografias críticas por meio de perspectivas conceituais e teóricas de matriz transacional. Por fim, pensando na contribuição que o livro pode dar ao campo da crítica literária no Brasil, não quero dizer que tentei fazer algo novo, pois não tenho grande simpatia por novidades — sobretudo quando se trata de crítica literária —, mas certamente procurei ensaiar leituras teóricas menos desgastadas e trazer alguns repertórios bibliográficos menos comuns.

Leia a entrevista completa publicada pela Unicamp

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