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Bibliotecários: muito além das bibliotecas

A função do bibliotecário não se resume a gestão do espaço. Projetos de incentivo a leitura comprovam a indispensabilidade do profissional

Annelise Soutto

A Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) é a única instituição do Estado que oferece o curso de Biblioteconomia, criado na década de 1970. A missão do curso, segundo o site da Ufes, é “formar profissionais para mediar e gerenciar informações registradas em suportes tradicionais, eletrônicos ou virtuais, habilitando-os para desenvolver atividades de organização, recuperação e disseminação da informação disponível em livros, revistas, jornais, fitas de vídeo, discos, mapas, slides, fotografias, CD-ROM, entre outros”.

Rodenir Zucatelli, 55, bibliotecária. Foto: Annelise Soutto

Rodenir Zucatelli, 55 anos, formada em Biblioteconomia desde 1990, é o exemplo de que essa missão foi alcançada. Muito além da organização e gestão do ambiente da biblioteca, Zucatelli desenvolve diversos projetos de envolvimento dos alunos com os livros.

Contação de histórias, rodas de leitura, eventos literários, produção de textos e até o gerenciamento do conteúdo envolvendo as temáticas trabalhadas em sala de aula, com o professor, são algumas das ações desenvolvidas pela bibliotecária. “Essas ações aproximam os alunos da literatura”, explica.

Na Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Adilson da Silva Castro, da Prefeitura Municipal de Vitória, onde trabalha, Zucatelli desenvolveu a Semana do Livro e da Biblioteca, neste ano em sua segunda edição. O evento acontecerá em outubro. Autores, poetas e outros profissionais foram convidados para palestrar para os alunos.

Para a construção do projeto, toda a escola foi envolvida, de coordenadores a professores, e o objetivo agora é incluir a família dos alunos. Os trabalhos são desenvolvidos ao longo do ano, sempre relacionados à diversidade de disciplinas e adaptados às diferentes idades dos alunos. “Este ano, vamos fazer um sarau e estamos trabalhando poesia com todas as turmas. É apaixonante como eles produzem, temos poetas aqui”, conta.

A bibliotecária também sugeriu projetos envolvendo apenas o corpo docente escolar, promovendo um diálogo em grupo. “A gente fez uma roda de leitura com professores e funcionários, a partir do livro Cartas do Mau Aluno, de Carolina Junqueira, como um momento de descontração e aprendizado”, esclarece. O livro traz cartas de um aluno para as disciplinas da escola, apontando dificuldades e questões da rotina escolar.

Déficit

A presidente do Conselho Regional de Biblioteconomia de Minas Gerais e Espírito Santo (CRB-MG/ES), Marília de Abreu Martins de Paiva, esclarece que é indispensável a atuação do bibliotecário nas escolas. “O bibliotecário, no ambiente específico da biblioteca escolar, apoia a alfabetização e o letramento, que são metas do Plano Nacional de Educação. Outra faceta do trabalho é com os próprios professores, que também necessitam do profissional para lhes orientar no uso de fontes e informações para o planejamento pedagógico, para  o desenvolvimento de atividades e para sua própria formação”, salienta.

Paiva reitera a importância da biblioteca escolar, assim como a indispensabilidade do bibliotecário presente. “O ambiente da biblioteca, como nenhum outro da escola, permite o desenvolvimento de competências leitoras e informacionais que compõem hoje a Base Nacional Comum Curricular. E, mais do que isso, o trabalho do bibliotecário funciona como um dínamo das atividades culturais da escola”.

Segundo dados do Conselho, no Brasil, o déficit de profissionais chega a 100 mil. Paiva atribui à ausência de políticas públicas de incentivo à formação o possível motivo desse número ainda ser tão alto. “Os gestores públicos, por desconhecimento ou falta de prioridade, podem não entender o importante papel do bibliotecário e da biblioteca para que a escola consiga os melhores resultados educacionais e, por isso, não incluir o profissional nos concursos e contratações”, diz.

Os dados dos municípios da região metropolitana de Vitória acompanham o panorama nacional. O número de bibliotecários é sempre inferior ao número de bibliotecas. Vitória é o único município que apresenta o mesmo número de bibliotecas e bibliotecários.

Em Cariacica, o déficit chega a 27 profissionais, ou seja, quase 50% das bibliotecas escolares não possui bibliotecário.

Procurada, por meio de sua assessoria, a Prefeitura da Serra não informou os dados da quantidade de profissionais que atuam nas escolas do município.

Em nota, a Prefeitura Municipal de Vila Velha informou que todas as 63 escolas da Rede Municipal de Ensino Fundamental de Vila Velha (Umefs) contam com o serviço de bibliotecas, dando acesso a todos os 36.563 alunos do Ensino Fundamental geridos pela Secretaria Municipal de Educação (Semed). São 50 bibliotecários cobrindo todas as escolas do município, alguns dividindo a carga horária, no caso de escolas menores.

Ainda de acordo com a Prefeitura de Vila Velha, apenas três escolas municipais de Ensino Fundamental não possuem espaço físico para biblioteca, porém contam com o serviço itinerante.

Consequências

A ausência do bibliotecário é sentida diretamente pelos alunos. Em uma das escolas da Prefeitura de Vila Velha que não possui bibliotecários, os alunos relatam dificuldades e desorganização.

Caio, de 16 anos, é aluno da escola e reclama da desorganização. “A organização da biblioteca é prejudicada. Eu peguei um livro emprestado, mas não tinha ninguém para fazer o empréstimo nem falar quando tem que entregar”, conta. Luiz, de 17 anos, também aluno da escola, afirma que falta incentivo. “A biblioteca já melhorou bastante, a gente precisa de alguém para nos incentivar mais a ler agora”.

Vitória apresenta a mesma quantidade de escolas, bibliotecas e bibliotecários, sendo o único município a equiparar esses números. Contudo, a carga horária dos profissionais não contempla escolas que têm aulas nos três turnos: matutino, vespertino e noturno.

Somando o horário de aulas dos três turnos, há um total de 12 horas diárias, ou seja, 60 horas por semana. A carga horária do profissional bibliotecário, porém, é de 40 horas semanais. Em escolas que funcionam apenas no período diurno, todos os alunos são atendidos diariamente. Entretanto, os alunos do turno noturno, em sua maioria do Ensino de Jovens e Adultos (EJA), podem não ser atendidos pelo profissional, a depender do horário inicial do dia de trabalho do bibliotecário.

Paralelamente à transformação do espaço da biblioteca, outras ações foram desenvolvidas pela Secretaria de Estado da Educação (Sedu), como um acervo digital e uma comunidade virtual de orientação. “São dois bibliotecários responsáveis por esse processo. Eles criaram o aplicativo, fazem a orientação às escolas e administram o blog, onde publicam orientações e boas práticas para uso desse novo espaço”, esclarece Carmem Prata, gerente do Sedu Digital.

O número de bibliotecários ainda em atuação nas escolas estaduais não foi informado pela Sedu. Prata explicou que a administração e organização diária desses espaços de leitura, bem como os empréstimos de livros, será definida pelas gestões das escolas.

Fonte: Jornal A Gazeta

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