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Centros de memória salvaguardam patrimônio documental do país

CEDEM e Fundo Clóvis Moura são objetos de dissertação apresentada na USP

por: Assessoria de Comunicação do CEDEM, da Unesp

Autorretrato de 17 de outubro de 1972
Imagem: Fundo Clóvis Moura – CEDEM

O Centro de Documentação e Memória, da Unesp, e o Fundo Clóvis Moura, doado ao CEDEM, foram objetos da pesquisadora Fernanda dos Anjos Casagrande para a elaboração de sua dissertação apresentada em abril de 2019 ao Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Escola de Comunicações e Artes da USP. Intitulado Acervos do Movimento Negro na cidade de São Paulo: um olhar para os registros da luta negra, o estudo busca discutir a origem, a guarda e a preservação de documentos referentes à luta negra. Além do Fundo Clóvis Moura, Fernanda também pesquisou a coleção Jornais Negros Brasileiros (1904-1969), no Instituto de Estudos Brasileiros (IEB/USP); e a coleção Imprensa Negra, no Arquivo Público do Estado de São Paulo. A orientação foi do professor Ivan Cláudio Pereira Siqueira.

“Desde minha graduação em História na Faculdade de Ciências e Letras da Unesp, Câmpus de Assis, já me interessava em estudar a memória da luta negra no Brasil,” assinala a autora. Para ela, “o fortalecimento do movimento negro ao longo do tempo e o esforço por reconhecimento da história dos movimentos negros resultaram na preservação destes documentos em centros de documentação”.

Fernanda destaca que a permanência de documentos históricos produzidos por movimentos sociais em organismos vinculados a universidades e outros órgãos administração pública permite ao pesquisador ter acesso a fontes diversificadas. Diferentes daqueles registros originados em entidades públicas ou privadas, que se limitam a informações burocráticas, como memorandos, notas, contratos, entre outros, os registros gerados no interior da luta negra contêm relatos da experiência cotidiana que contribuem para enriquecer as pesquisas sobre o tema.

Ao refletir sobre a formação dos acervos universitários, a exemplo do CEDEM, a ex-aluna da Unesp ressalta o crescimento da produção intelectual no campo das Humanidades e o surgimento de novas temáticas e objetos de pesquisa a partir dos anos 1960 como movimentos impulsionadores da formação desses centros de documentação. “O pesquisador depende de acesso a bases sólidas de informação para a realização de seus estudos,” diz. A pesquisa expõe que, ao longo do tempo, os centros de documentação e memória se converteram, em grande parte, em importantes repositórios do patrimônio histórico nacional e de seus bens culturais. O surgimento desses centros, atrelado ou não à estrutura universitária, supre uma lacuna deixada por estados e municípios que não conseguiram assimilar a preservação do patrimônio documental nacional dentro das estruturas institucionais públicas.

Movimento político – A guarda da documentação produzida por Clóvis Moura no âmbito da militância na luta negra, segundo o trabalho, tem caráter político, tanto quanto o próprio movimento pela compreensão da desumanização sofrida pelo negro. Os conjuntos documentais dessa luta representam uma ação contra o esquecimento da opressão sofrida pelos negros e, mais além, rompem com a memória de subalternidade dessa população.

Acervos que guardam a memória do movimento negro, segundo avalia Fernanda, ajudam a desfazer a predominância de um regime de informação que privilegia o ponto de vista do colonizador. Acolher, tratar e guardar informações relativas a populações vulneráveis e dar acesso ao conhecimento é uma atividade tornada possível a partir da formação dos centros de documentação.

Com uma produção intelectual voltada para mostrar o negro como um sujeito ativo em guerra contra o escravismo, em oposição aos discursos de fundamentação branca a cerca  da realidade e a vida do afro-brasileiro, Clóvis Moura talvez tivesse pouco espaço em arquivos estatais visto tratar-se de um pensador autônomo, sem vínculo com instituições públicas. Mas o vigor de suas reflexões de vanguarda, em um momento em que os registros sobre o negro não o consideravam um sujeito de ação política, acabou por levá-lo ao CEDEM, um centro de documentação vinculado a uma universidade pública, no caso a Unesp.

O “Fundo Clóvis Moura é um arquivo pessoal de um intelectual negro cuja obra e ideias exercem um ponto de clivagem na percepção da história do negro na sociedade brasileira, primordialmente por entender que as relações raciais constituem elementos estruturantes da formação do Brasil,” conclui Fernanda.

Fonte: Centro de Documentação e Memória da UNESP – Reitoria

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