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Claudia Werneck se prepara para lançar aplicativo cultural inclusivo

Claudia Werneck está lançando no fim do mês um app revolucionário na questão da acessibilidade no Brasil. Por meio de sua ONG, a Escola de Gente, ela criou um dispositivo para pessoas com ou sem deficiência que elenca programações culturais de todo o Brasil com pelo menos um recurso de acessibilidade – são 12 ao todo.

Hoje com 62 anos, ela começou a se interessar por essas questões nos anos 1990, quando trabalhava para a revista “Pais e Filhos”. Um amigo de seu filho tinha Síndrome de Down e a mãe do menino a procurou para pedir ajuda no assunto. Ela, então, se sensibilizou com a situação e fez uma matéria para a revista que terminou premiada. Pouco depois, escreveu um livro a respeito e, como também teve um sobrinho portador de deficiência, abraçou de vez a causa da acessibilidade, que é tratada por sua ONG. Além de todo o sucesso profissional, o sobrenome não nega. Ela é mãe de Tatá Werneck e se prepara para ser avó também neste ano.

Em entrevista à Vogue, ela contou detalhes sobre o novo projeto. Vem ler!

Como tudo começou

“Sou uma ativista política, escritora, jornalista e por conta de uma reportagem que fiz para a revista “Pais e Filhos” repensei minha profissão. Tive uma percepção de que a deficiência era uma questão econômica e política. Esse pensamento me tornou uma escritora com 14 livros publicados. Quando cheguei nesse ponto pensei que estava cansada, já tinha viajado o mundo, dado palestras e decidi organizar melhor meu futuro. Daí criei a ONG Escola de Gente com dois objetivos: primeiro para formar uma nova juventude que aprendesse o que era discriminar, mas sem deixar o ativismo de lado sempre pensando em projetos com focos em inclusão. E o segundo ponto é mostrar que em alguns processos de comunicação é que se dão os casos mais graves de discriminação. E foi assim que eu criei a ONG, que nasceu dos meus livros, do que eu aprendi olhando o mundo, pensando, viajando e documentando.”

“A Tata e o Diego, meus filhos, foram criados com esse pensamento. Já dei cursos na África, no Quênia, na Espanha, para sindicalistas, para jovens no interior da Argentina, mas de fato o que mais me orgulha é ter formado jovens que hoje estão com seus 30 anos e tem pensamento inclusivo e sensibilizado. Desenvolvemos e distribuímos publicamente diversos materiais entre ele o do teatro que é um dos nossos projetos mais acessíveis.”

“Os Inclusos e os Sisos”

“O grupo de teatro ‘Os Inclusos e os Sisos’ foi criado pela Tatá e já foi até premiado pela ONU. Nossa defesa é que a acessibilidade tem que ser oferecida independentemente de existirem pessoas com deficiência ou não na plateia. Tenho esse tesão crescente porque pra mim quanto mais eu vou avançando na idade, mais eu percebo que falar de inclusão é falar de liberdade.”

14 livro publicados

“Escrevi meu primeiro livro em 1991. Eu trabalhava como chefe de reportagem, sempre trabalhei muito e um dia meu filho chegou em casa e pediu para que eu fosse conhecer o irmão de um amigo que tinha nascido. E quando eu cheguei lá, o menino tinha síndrome de down. Na época não havia nenhum livro sobre o tema no Brasil e eu escrevi o primeiro. Inclusive na época fui em vários programas de TV e até hoje pessoas acham que eu trabalho só com esse tema. A edição chama ‘Muito prazer, eu existo’. O livro dava muita informação e tratava de uma pessoa que chegava ao mundo e que deveria ter acesso a tudo como todos e principalmente a educação inclusiva. Depois desse livro passei a escrever sobre deficiências em geral, daí relacionei com pobreza e passei a levar esse paralelo para situações políticas e debates econômicos e aí eu acho que foi minha grande contribuição para o país porque peguei um assunto que ainda é considerado quase que privado e levado com muita firmeza para os grandes debates nacionais e internacionais. E penso que no início eu era muito arrojada porque se tratam de questões que estão sendo faladas agora, mas já me incomodavam na época, 2002. Já fomos muito premiados fora do Brasil, principalmente por esse pensamento inclusivo.”

Debate atual

“Nós finalmente estamos falando mais sobre inclusão, mas a questão é que a gente tem que praticar inclusão e precisam entender que existe uma urgência nisso. Não ter cardápio em braille, por exemplo, ninguém acha que é urgente. Não tem como você ter um país que avance nos direitos humanos sem olhar pra essa grande parcela da população. Ninguém merece inclusão só em dias de festa. A gente fica feliz quando o sobrinho chama o amigo com deficiência para a festa, mas no dia a dia esse amigo não é chamado para dormir fora de casa, não pode ir na excursão da escola porque o ônibus não suportar.”

Claudia Werneck (Foto: Felipe O’Neill)

Por onde começar

“Todo início é difícil. É começar a se exercitar. No começo não vai ser fácil, mas o primeiro passo é começar a tentar olhando pra pessoa com deficiência e se perguntando como ela vai ao médico, como vai ao ginecologista. Entender que estamos falando de uma humanidade que precisa desenvolver uma nova ética. É preciso que as pessoas se aventurem naquilo que disseram para não se aventurar. tem muitos conceitos antigos, quando vc cria um filho para o mercado de trabalho você nunca fala que ela vai se deparar com pessoas com deficiência. Isso reverte a lógica das pessoas e precisamos parar de achar que elas não existem.”

Comunicação acessível

“As pessoas entendem que comunicação é instrumental, mas pra mim comunicação é uma estratégia de revolução e transformação social e econômica. Quando você pratica inclusão não é só uma mudança de postura é uma mudança de planejamento para o futuro. Por exemplo se uma cartilha de educação sexual for impressa e entregue nas comunidades somente com conteúdo escrito, isso significa que metade da população analfabeta que está ali vai achar aquilo lindo, mas não vai se beneficiar do conteúdo. Temos que trabalhar para que a comunicação dê conta de todos os modos de absorção com letra em braille, em ilustrações,… Meu trabalho hoje é para que as próximas eleições tenham uma comunicação que abrange todos os tipos de deficiência.”

Aplicativo Vem CA“O app é algo muito interessante e foi idealizado pelo Pedro Prata (coordenador da ONG) quando começamos a observar que depois que leis e políticas avançam no âmbito da inclusão, instituições culturais estavam cada vez mais interessadas em abraçar esse universo de acessibilidade. Era necessário então um projeto que unisse quem estava oferecendo acessibilidade e garantindo direitos, com pessoas que estão precisando desesperadamente usufruir desses direitos. A plataforma é de âmbito nacional, com comunicação acessível e vem atuar nesse momento de conexão. Essa ferramenta pode mudar a história da cultura acessível no Brasil. Teremos mais pessoas desfrutando de eventos incríveis no país. Tem algo que eu acho muito importante: a gratuidade é acessibilidade. Por isso o app é de uso gratuito e ainda permite o cadastro de atividades culturais gratuitas.

Vamos acompanhar de perto toda a evolução desta plataforma e aprimorar aos poucos toda a política de uso e também do que está sendo cadastrado. Tudo o que é novo exige muito cuidado. A Escola de Gente assim como o app, só faz sentido se soubermos que está sendo aproveitado e usufruído pelo público. Cada um contribuindo de sua maneira.”

Claudia Werneck (Foto: Felipe O’Neill)

Fonte: Vogue 

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