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Conheça a livraria especializada em obras de pessoas negras

Texto por Giorgia Cavicchioli

Ketty Valêncio quer facilitar o acesso à narrativas negras. Foto: Maria Ribeiro

Quantos autores negros você já leu? Quantas histórias com protagonistas negros você lembra? E quantas publicações falando sobre a vivência negra? Sabemos que a literatura, como todas as outras esferas da sociedade, ainda é muito racista.

Foi pensando em mudar esse cenário que a empreendedora e bibliotecária Ketty Valêncio inaugurou a Livraria Africanidades.

De acordo com ela, “a livraria deseja facilitar cada vez mais as narrativas negras e que isso se torne uma proliferação do enegrecimento da literatura como algo naturalizado”.

Leia a entrevista completa:

Quando surgiu a ideia da livraria? De onde veio a inspiração?

Ketty Valêncio: Foi através da minha experiência pessoal, de minhas inquietações perante a trajetória escolar e acadêmica. De ter na infância e na adolescência a companhia de um sentimento avassalador, uma sensação de estrangeirismo absurda, de estar desconectada comigo mesma e principalmente nos lugares onde estava. Logo depois tive um reencontro mágico com a literatura, dessa forma percebi que a literatura produzida por pessoas negras me resgatava e me emancipava, pois eu me via na história e/ou me identificava com as narrativas, assim as palavras que eu lia tinham o codinome de afeto. Entretanto as minhas inspirações também são do passado, por meio das minhas e dos meus ancestrais e hoje sou apenas a continuidade.

Como o projeto foi colocado em prática? Conte um pouco dessa trajetória.

Ketty: No fim do curso de MBA em Bens Culturais pude elaborar um plano de negócio, que de tal modo decidi colocar na teoria o meu grande sonho. Foi um período de grande aprendizado, pois assim tive a certeza que seria possível ter o meu próprio negócio. Após a conclusão do curso, fui com a cara, coragem e com muitas inseguranças, em colocar a existência desse projeto na prática. Iniciei com o formato de e-commerce, em um site básico e também comecei a participar como expositora em feiras culturais e entre outros lugares.

Teve algum ponto de virada?

Ketty: Algo que foi determinante na minha trajetória profissional, foi ter ajuda de pessoas que confiaram no meu trabalho, que me deram a oportunidade para iniciar, como ofertas de eventos, indicações de pessoas para conhecerem o meu empreendimento e também tive muito apoio dos meus familiares e amigas/os.

Como as pessoas podem ter acesso aos livros?

Ketty: Através da loja virtual ou visitando o espaço físico. O espaço físico é uma grande conquista e também uma ferramenta de resistência. A idealização desse lugar foi para ser um ponto de encontro que fomentasse a cultura negra, principalmente pela literatura. Estar em um território considerado periférico, sendo um contraponto de uma sociedade que celebra os seus centros e invisibiliza as suas margens, é algo totalmente político.

Por qual motivo é importante que exista uma livraria como essa?

Ketty: A importância da existência de um empreendimento como o meu, significa muitas coisas, como a história é fragmentada, que ela é diversa e que a população negra merece ser reconhecida e o mais importante, que nós negras/os podemos ser o que quisermos. Na realidade eu apenas queria vender livros, disseminar narrativas negras que foram e ainda sofrem o apagamento histórico, porém o meu empreendimento apenas existe por causa que vivemos em uma sociedade racista, misógina e classista.

O que isso significa?

Ketty: Isso significa que fazer algo simples, de apenas determinar a minha existência e de uma parte da maioria da população, pode ser revolucionário, no entanto há algo muito grave por trás disso. Por isso que eu e outras pessoas temos que evidenciar habitantes que são povos originários, contudo a sua dizimação fazem parte de um projeto nacional.

Qual o retorno que você tem da livraria? O que as pessoas costumam falar?

Ketty: O retorno geralmente é positivo. Consigo acessar muitas pessoas de lugares diferentes e geralmente recebemos muitos elogios. Muitas pessoas querem fazer parte disso, através de oferta de construção de eventos no espaço físico e também de diversas autores negros/as que querem fazer parte do acervo da livraria.

Quais os próximos passos para a livraria? Tem algum sonho para ela?

Ketty: O céu é o limite para nós. A livraria deseja facilitar cada vez mais as narrativas negras e que isso se torne uma proliferação do enegrecimento da literatura como algo naturalizado.

Fonte: Yahoo! Notícias

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