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COVID-19: Tempo para mudanças editoriais nos quadrinhos no Brasil

Texto: Guilherme Smee

Como em outros momentos, o mercado editorial de quadrinhos se vê sacudido por contextos externos que fogem do seu controle. Já investigamos no blog Splash Pages a fundo a crise editorial que se abateu sobre o Brasil desde o começo desta década. Agora, vamos traçar alguns pensamentos sobre a atual situação que se encontra o nosso mercado doméstico de comics, com a Panini e o mercado internacional de comics, com a Marvel, DC Comics, e outras empresas que dependem do sistema de mercado direto. Neste primeiro texto, vamos falar um pouco sobre o mercado brasileiro e, em outra oportunidade, nos estenderemos em outros textos sobre o norte-americano e outras situações.

Esta coluna, como sempre, reflete as dúvidas, anseios e poucas certezas daquele que a escreve, e pouco tem a ver com as orientações, missão e valores do site que a veicula.

Sem dúvida é um momento para estas editoras, domésticas ou internacionais, repensarem as formas de vendas com que trabalham. Aqui no Brasil é bem verdade, a Panini Comics já sofria atrasos com a distribuição feita pela TOTAL, empresa da falida Editora Abril. Agora que conta com distribuição localizada feita por diversos pontos de vendas ao redor do Brasil, a Panini Comics teve a oportunidade de redistribuir muitos números que estavam atrasados. Ou seja, aumentou a circulação de seus títulos periódicos em circuitos de bancas de revistas e comics shops. A distribuição, apesar de continuar de certa forma setorizada, parece ter dado uma estabilizada em relação aos meses marcados nas capas das revistas e as datas em que estão presentes nas bancas.

Abrindo-se essa janela de respiro nas pautas de distribuição a serem resolvidas pela Panini Comics, em meio a pandemia do Novo Coronavírus abriu-se uma chaga que pouco era discutida pela empresa e pelos leitores da mesma: a disponibilidade de títulos digitais em português. Não muito tempo atrás, a Panini Comics abriu uma cruzada contra sites que divulgavam e disponibilizavam os famigerados scans de quadrinhos. Mais recentemente, foi alvo de polêmica em que ameaçava o site Guia dos Quadrinhos, um bastião da informação sobre publicações em quadrinhos no Brasil, de fazer uso indevido das capas publicadas pela editora.

O calcanhar de Aquiles, da Panini Comics, mais que distribuição e divulgação (comunicação) é, com certeza, o oferecimento de material digital. A diferença é que, para os leitores, pouca diferença faz a disponibilização destes títulos em vias virtuais, o que conta para o tipo de consumidor de perfil brasileiro é ter a revista. O brasileiro é um leitor muito mais colecionador do que conteudista. Muitas vezes o que importa mais é quantidade do que a qualidade.

Essa é mais uma das razões porque até hoje a Panini Brasil nunca havia se preocupado em ter um setor de comercialização digital próprio ou afiliado com outros aplicativos de exibição de quadrinhos virtuais, como o SocialComics ou o ComiXology, em português brasileiro. Contudo, num momento inesperado por todos como a crise da pandemia do COVID-19, a editora de origem italiana acabou disponibilizando alguns PDFs de publicações suas gratuitamente. Seria isso o indício da abertura do mercado de quadrinhos digitais de grande títulos e grandes personagens?

Outro indício foi que com os decretos governamentais impedindo o comércio de bancas, comic shops e livrarias, estabelecendo material impresso como material de segunda ordem e importância, a editora Panini Comics tirou do ar a sessão “checklist” e sua programação prévia que mal tinha completado um ano de vida. Ao mesmo tempo, seu sistema de pré-venda se encontra a todo vapor. Mesmo sem poder vender fisicamente seus produtos, a Panini Comics continua lucrando. A primeira edição de X-Men de Jonathan Hickman, por exemplo, já está esgotada, assim como muitas outras edições.

O que comprova, mais uma vez, a corda-bamba que é gerir um empresa com tantas publicações e possibilidades de publicações, como por exemplo a dimensão virtual. Caso a Panini tivesse resolvido suas publicações digitais antes do caos da Pandemia, hoje, estaria lucrando ainda mais com os seus “scans legais”, até porque muita gente reclama também das republicações de muitos materiais já esgotados nas bancas.

Como vamos ver na próxima coluna, falando sobre a situação dos Estados Unidos, aquele país já viu tempos ruins em que teve de suspender a distribuição. A saída, foi diminuir drasticamente as vendas e a distribuição. O Brasil, por mais que já tenha vivido inflações estratosféricas nos anos 1970 e 1980, nunca deixou de colocar publicações nas bancas por dois meses correntes como a situação me que vivemos agora. A solução para o Brasil, cada vez mais parece ser um fortíssimo – em distribuição e comunicação – acertado e azeitado sistema com entregas corretas, plano mix de assinaturas, brindes e vales-compra, fidelizando o comprador de forma parecida com o que faz a Amazon.com. Aliado a isso, um sistema de pré-vendas com impressão sob demanda, algo já testado anteriormente pela Panini, mas talvez com uma celeridade fora do contexto da época.

Eu bato mais uma vez na tecla de que a Panini deveria usar os personagens que dispõe a seu favor, para atrair seus clientes e não afastá-los. Criar uma comunicação forte que faça com que o leitor queira fazer parte da Panini como quer fazer da Marvel e da DC Comics por exemplo. É algo interessante para se parar para pensar que os leitores amem tanto Batman, Darth Vader, Conan, Wolverine, mas dêem de ombros ou se invoquem quando vêem o logo retangular amarelo. Tempo de pandemia é um tempo ótimo para que Panini reveja suas táticas e estratégias de marketing. Esse é meu pensamento.

Fonte: O Vício

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