Navegar pelas redes sociais, acessar serviços e fazer uma compra, por exemplo, podem ser tarefas muito difíceis para essas pessoas, devido à falta de acessibilidade de páginas e sites.
Texto por Beatriz Andreoli e Cassio Andrade, Bom Dia Diário

A internet tem sido uma grande aliada das pessoas neste período de isolamento social causado pela pandemia do novo coronavírus. Porém, nem todo o conteúdo on-line está disponível para usuários com deficiência visual, que, por conta disso, precisam buscar adaptações para também se inserirem nesse universo.
Para muitas pessoas, o mecanismo em uma rede social, por exemplo, é bem simples: basta arrastar a tela e, com dois toques, você consegue curtir uma foto. Atualmente, são muitas as pessoas conectadas em todo o planeta, mas muitas delas ainda encontram dificuldades de acessibilidade na internet.
“O contato para nós também está sendo pela internet. Nós precisamos do acesso remoto a outros espaços, serviços, produtos para podermos conciliar a questão do isolamento social e das relações sociais que precisamos estabelecer. Então a fuga tem sido a internet mesmo, mas a acessibilidade deixa muito a desejar em nosso acesso e em nosso pertencimento a esses espaços”, disse Luciane Maria Molina Barbosa, que é professora de audiodescrição.
Na pandemia, a rede social é, para muitos, a única maneira de conversar com outras pessoas. Não só isso, mas para consumir também.
“Esses dias mesmo fui ligar para uma perfumaria e não conseguia ter acesso ao telefone que estava na imagem. Eu comentei na postagem se poderiam me passar o número, e a mesma perfumaria respondeu que estava na imagem e que era só ver. Então as pessoas não têm muita consciência de que pessoas com deficiência visual também consomem informação, produtos, serviços, e que as mídias precisam estar preparadas. Não basta apenas a tecnologia”, relatou Luciane.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde, no mundo, são 39 milhões de pessoas com algum grau de deficiência visual. Só no Brasil, são 6,5 milhões.
A grande reclamação dessas pessoas é que elas se sentem invisíveis. Por mais que a tecnologia e a inteligência artificial ajudem, elas não conseguem enxergar, com a mesma riqueza de detalhes, as fotos e os vídeos publicados nas redes sociais.
Algumas empresas têm adotado ferramentas para melhorar essa situação, e existe a famosa #PraCegoVer, por meio da qual é feita a descrição de uma foto, por exemplo, para que as pessoas com deficiência visual saibam, com detalhes, o que ela contém.
Edgar Jacques é consultor em audiodescrição e conta que nem sempre um site que é acessível é adaptado para um deficiente visual.
“As plataformas têm duas grandes dificuldades. Elas têm que ter o produto com acessibilidade, que é um filme, por exemplo, com audiodescrição. Mas, para você chegar nele, a plataforma em si precisa ser acessível. O leitor de tela tem que ser capaz de identificar cada passo do seu caminho até o produto. E, dentro do produto, tem que ser possível que a pessoa com deficiência consiga modificar o áudio, a legenda. Ela tem que ter todo o controle disponível para essa tecnologia, que é o leitor de tela”.
Marcos Rodrigues da Conceição também é deficiente visual e ainda está na fase inicial do contato com a tecnologia. Por enquanto, ele precisa da ajuda da filha ou da sobrinha para fazer algumas coisas. “Faltam lugares que nos ajudem a aprender. Aqui no Alto Tietê, são poucos lugares que têm associação que possam ensinar, por exemplo”.
Para avaliar a acessibilidade de sites brasileiros, o “Movimento Web para Todos” pesquisou 14 milhões de sites e mostrou que apenas 0,74% são totalmente acessíveis. Entre as falhas mais comuns estão os links. Entre os portais avaliados, 83,56% tinham esse tipo de problema em 2019. Neste ano, o número subiu para 93,65%.
“Eu imagino que a acessibilidade na internet, assim como no cinema, no teatro, na televisão, vai passar a ser vista como um direito essencial para aquele setor quando as empresas passarem a ver as pessoas com deficiência como consumidoras, quando tiverem ali em seus estudos, em seus planejamentos a pessoa com deficiência visual como uma consumidora em potencial”, opinou Edgar.
Fonte: G1