Texto por Nathan Vieira
Com o decorrer do nosso dia-a-dia, ao consumir um produto como um filme, uma série ou mesmo uma história em quadrinhos, acabamos não percebendo a importância de algumas características presentes em determinados personagens. Acontece que ter um personagem que faça parte de uma minoria pode ser muito mais impactante do que nós pensamos, por causa de uma coisinha chamada representatividade. É que, durante muito tempo, era difícil que uma pessoa, parte de uma minoria, se identificasse com algum personagem da ficção. Com o passar dos anos, isso foi mudando, e as produções começaram a ficar mais inclusivas — algo que acabou reverberando também nas HQs, resultando numa maior diversidade entre a safra de personagens.
Para que você entenda a importância da representatividade, vamos exemplificar: pense que uma criança que nasceu paraplégica esteja condicionada a usar cadeira de rodas ao longo de toda a vida. Essa criança cresceu vendo heróis com os quais seus colegas se identificavam, mas que não faziam com que ela se sentisse representada. Então, um novo herói dos quadrinhos é cadeirante, e o fato de usar cadeira de rodas não o impede de combater o crime. A partir da criação desse novo personagem, a criança passa a se identificar verdadeiramente com alguém, que — ainda que fictício — entende tudo o que ela vive sendo uma cadeirante (o preconceito, as dificuldades), e passa o ensinamento de que a cadeira de rodas não deve ser um empecilho para fazer o que se tem vontade, tornando-se um exemplo a ser seguido. Essa é a magia da representatividade.
“Quando há a representatividade é como se uma validação ocorresse, um reconhecimento da existência dessa criança. Ela entende que podemos ser de inúmeras maneiras. A criança sente que existem outras pessoas iguais a ela, ocorre o mecanismo psicológico da identificação. Em obras ficcionais, há, normalmente, um personagem que é tido como herói, e ele tem desafios a serem realizados, e esta é uma fonte de inspiração para a criança resolver os próprios desafios”, aponta o psicólogo.
Com o decorrer do nosso dia-a-dia, ao consumir um produto como um filme, uma série ou mesmo uma história em quadrinhos, acabamos não percebendo a importância de algumas características presentes em determinados personagens. Acontece que ter um personagem que faça parte de uma minoria pode ser muito mais impactante do que nós pensamos, por causa de uma coisinha chamada representatividade. É que, durante muito tempo, era difícil que uma pessoa, parte de uma minoria, se identificasse com algum personagem da ficção. Com o passar dos anos, isso foi mudando, e as produções começaram a ficar mais inclusivas — algo que acabou reverberando também nas HQs, resultando numa maior diversidade entre a safra de personagens.
Para que você entenda a importância da representatividade, vamos exemplificar: pense que uma criança que nasceu paraplégica esteja condicionada a usar cadeira de rodas ao longo de toda a vida. Essa criança cresceu vendo heróis com os quais seus colegas se identificavam, mas que não faziam com que ela se sentisse representada. Então, um novo herói dos quadrinhos é cadeirante, e o fato de usar cadeira de rodas não o impede de combater o crime. A partir da criação desse novo personagem, a criança passa a se identificar verdadeiramente com alguém, que — ainda que fictício — entende tudo o que ela vive sendo uma cadeirante (o preconceito, as dificuldades), e passa o ensinamento de que a cadeira de rodas não deve ser um empecilho para fazer o que se tem vontade, tornando-se um exemplo a ser seguido. Essa é a magia da representatividade.
“Quando há a representatividade é como se uma validação ocorresse, um reconhecimento da existência dessa criança. Ela entende que podemos ser de inúmeras maneiras. A criança sente que existem outras pessoas iguais a ela, ocorre o mecanismo psicológico da identificação. Em obras ficcionais, há, normalmente, um personagem que é tido como herói, e ele tem desafios a serem realizados, e esta é uma fonte de inspiração para a criança resolver os próprios desafios”, aponta o psicólogo.

Tanto a Marvel quanto a DC apostam em personagens provenientes de diferentes partes do mundo. Isso ajuda a trazer à tona culturas que não são retratadas costumeiramente, como é o caso do povo romani, por exemplo.
Na Marvel, temos a Feiticeira Escarlate representando justamente o povo romani, assim como Mercúrio, seu irmão. Eles também têm origem judia, pois são filhos do Magneto. A Ásia também é bem representada, com Blindspot (chinês), Armor (japonesa) e Amadeus Cho (coreano). A América Latina é a origem de vários personagens, como Ventania (venezuelana), Motoqueiro Fantasma (mexicano) e Inferno (colombiano). Se você acha que o Brasil ficou de fora, está muito enganado, pois temos o Mancha Solar. A representatividade da África fica por conta de ninguém menos que Tempestade (queniana) e Pantera Negra. Cheyenne e Apache dão voz à cultura indígena.
Sexualidade e identidade de gênero

Trazer à tona diferentes sexualidades tem sido uma atitude relativamente recente por parte da indústria das HQs, mas aos poucos, as empresas conseguiram inserir personagens que representam a realidade da comunidade LGBTQIA+. Para Rodrigo Casemiro, a representatividade ajuda na autoaceitação e no autoconhecimento. “Muitas vezes as pessoas, sejam crianças, adolescentes ou adultos, sentem e pensam algumas coisas, percebem características suas que não reconhecem nas pessoas mais próximas, e não sabem nem como nomear o que estão sentindo ou percebendo. Quando elas veem em obras, sejam HQs, séries, livros, filmes, novelas, esquetes, entre outros, os personagens que são como ela, há uma ampliação de consciência e autoconhecimento, e isso favorece a autoaceitação”, o psicólogo explica.
No caso da Marvel, a bissexualidade é representada por Daken, o filho de Wolverine. Seus poderes envolvem feromônios e sedução, e ele já usou tanto para despertar o interesse de homens quanto de mulheres. Por sua vez, Wiccano, filho da Feiticeira Escarlate, e Teddy Altman, filho do Capitão Marvel, são referência na Marvel quando se trata de homossexualidade. Eles têm um relacionamento e até já mencionaram noivado. No entanto, o primeiro (e até hoje o principal) personagem gay da Marvel foi o Estrela Polar, criado na década de 70. Em 2012, foi publicada uma edição de Surpreendentes X-Men com o primeiro casamento gay da Marvel, protagonizado por ele. Já Phyla-Vell, irmã de Hulkling, é lésbica. Sua namorada é a Serpente da Lua, filha do Drax (dos Guardiões da Galáxia).
Deadpool, que é um dos personagens mais famosos da editora, também faz parte da comunidade LGBTQIA+. Ele se enquadra na pansexualidade, que é a atração por pessoas, independente se é homem ou mulher, cis ou trans. E por falar em personagens trans, a Marvel tem o Ken Shiga, amigo da Garota-Esquilo, que é um homem trans. Os transgêneros também são representados por Sera, que é uma mulher trans e lésbica, já que tem uma relação com Angela. Uma das apostas mais recentes da Marvel para a diversidade é Shade, uma mutante dos X-men que é uma drag queen. Em entrevistas, os criadores já disseram que ela vai ter mais espaço nas próximas edições.
A DC não fica atrás, e também aposta na diversidade. A empresa aborda a assexualidade (a falta de atração sexual a qualquer pessoa) por meio da personagem Tremor. Já a intersexualidade (variação de caracteres sexuais que inclui cromossomos ou órgãos genitais que dificultam a identificação de um indivíduo como totalmente feminino ou masculino) é representada por Cavaleiro Brilhante. Durante os quadrinhos, é dita inclusive a seguinte frase: “Eu não sou apenas um homem ou uma mulher. Eu sou os dois”, o que ilustra bem a realidade de alguém intersexual. A DC também trouxe à tona Lee Serrano, um personagem não-binário (que não se identifica exclusivamente como homem ou mulher, estando portanto fora do binário de gênero e da cisnormatividade). O Midnighter também é um personagem que faz parte da comunidade LGBTQIA+. Ele é casado com Apollo, outro herói. As lésbicas são representadas por Maggie Sawyer, que aparece nas histórias de Superman.
Doença e Deficiência

De acordo com o psicólogo, falta de representatividade pode resultar no preconceito: “Se apenas o que é dito normativo é visto, lido, ouvido, conhecido, quando surge algo diferente dessa normatividade, acontece a rejeição, a tentativa de exclusão, e isto é o preconceito. Não acontece a alteridade, o preconceito é um bairrismo muito prejudicial e destrutivo”. Tendo isso em mente, é possível ver que a diversidade também ajuda a trazer informação em torno de uma realidade que acaba não sendo a da maioria. Uma doença ou uma deficiência que vira assunto em pauta na mídia, ainda que na ficção, ajuda o público a compreender melhor do que se trata.
Na Marvel, é o Gavião Arqueiro que traz a representatividade para os deficientes auditivos. Por sua vez, o Mercúrio é o portador de transtorno de personalidade limítrofe (um padrão de comportamento anormal caracterizado por instabilidade nos relacionamentos interpessoais). Outra heroína que ajuda a pregar a diversidade é Silhouette, que é paraplégica, e combate o crime usando muletas. Um caso bem famoso é o do Demolidor, que é deficiente visual. Jane Foster luta contra o câncer de mama, nos quadrinhos, e traz um pouco de como é essa realidade. Já na DC, a representatividade dos deficientes auditivos cabe ao Flautista, enquanto o Doutor Meia-Noite representa os deficientes visuais. Isso, é claro, além da Bat-Girl/Oráculo, que combate o crime na cadeira de rodas.
Casemiro encerra dizendo que essas obras que apostam na diversidade “facilitam o acesso às informações, movimentam discussões positivas em todos os âmbitos da sociedade. Preconceitos são identificados e podem e devem ser repensados. Por isso existe uma responsabilidade para o artista que produz tais obras, para que não aconteça um desserviço”.
Fonte: Canaltech