Texo por Clarissa Padovani Mussoi*
Se ilustração é a ação de esclarecer e imagem é representação de pessoa ou objeto através de desenho, gravura, escultura, como define Aurélio (2020), podemos dizer que os livros imagem ou ilustrativos são um convite à criatividade. No entanto, porque consideramos a escrita mais importante que a imagem? Vamos tentar esclarecer alguns aspectos referentes à essa questão.
Desde os primórdios, a necessidade de se comunicar foi percebida através das pictografias encontradas nas cavernas, passando pelos hieróglifos, as escritas cuneiformes, dentre outros tipos de publicação (se podemos dizer assim, papiros e pergaminhos) , até chegarmos no século XV com a criação da imprensa por Johannes Gutenberg. A invenção da imprensa impulsionou a criação de panfletos e livros, tornando a leitura um instrumento de poder. Muito embora o acesso ao livro fosse privilégio dos nobres.
A questão é que hoje supervalorizamos a escrita e, de certa maneira, perdemos aquela atenção ao visual. Os bebês ou crianças não alfabetizadas iniciam seu contato com o mundo dos adultos de maneira visual. Se não sabem falar, apontam para o que querem. Desta forma, o universo infantil está alicerçado num mundo em que a visão aponta para as cores, para os objetos, para o tipo de comida, enfim aponta. Esse é o meio de comunicação entre esses dois mundos. Nós adultos somos interlocutores no processo de pré-alfabetizar. Vejamos, a imagem e o ouvir são gêneros primários ao de escrever. Por que então, com o passar do tempo, e a pós-alfabetização esquecemos das imagens?
Com o passar dos tempos e com os ciclos de alfabetização concluídos e o encaminhamento às etapas posteriores, o mundo deixa um pouco a ludicidade para entrar num mundo mais “quadrado”, onde as construções de conhecimento são criadas através de livros e suas diferentes formas e gêneros. Podemos observar isso até mesmo quando existem críticas referentes a livros adotados em escolas em que não há escrita. Como assim pagar um livro tão caro para não ter texto? É aí o ponto da nossa questão.
A leitura de imagem confronta universos cognitivos “não explorados”. O livro ou uma imagem possibilita novas criações, novas percepções e novas leituras para um grupo de mesma faixa etária e que constroem histórias diferentes através das suas percepções de mundos e criações familiares entrelaçadas. Da maneira em que um livro de imagem possui como narrador, dentro da sua narrativa, fragmentos do tempo referente àquela determinada cena. O foco é a imagem e por muitas vezes, a ilustração é confundida com essa leitura, pois a ilustração pode ser representada por uma fotografia, um tempo parado. Nesse sentido, a ilustração complementa uma história. Mas se essa ilustração não houver texto, torna-se numa imagem, abrindo campo para novas possibilidades.
Dessa maneira, quando falamos em leitura de imagem e nas diversas possibilidades de leitura, estamos construindo uma história do início ao fim ou do fim para o início ou só do meio, ou de um objeto apresentado na história e seus diversos cenários. Isso estimula a criatividade e criação de histórias diferentes, a partir do momento em que se opta por abordar uma temática, ou várias temáticas entrelaçadas ou não.
Sem grandes pormenores, um livro só terá validade se houver texto? E todo o processo construtivo entre leitura-escrita em que você é o autor do texto do livro daquela imagem!? Isso não vale a pena?! Se questionarmos o quão importante é essa relação de construção da sua ideia e memória através de uma imagem vale mais do que criar conhecimento a partir do que se leu. Até mesmo é possível estimar quantas pessoas preferem “ler” uma postagem de imagem nas redes sociais do que um texto extremamente longo.
Essas novas percepções vem de encontro ao tempo e a forma como a informação e a internet faz com que tudo flua de maneira rápida. Aprender a ler e aprender a ler imagens vai além do que ler letras e números. As palavras possuem informações a partir do momento em que são construídas. Será a imaginação um privilégio das crianças? Por que nós adultos não nos permitimos imaginar e estimular a criatividade? O quanto livros ilustrados podem tornar a leitura mais prazerosa? Será que nos tornamos analfabetos visuais? Vamos refletir sobre isso?!
*Por Clarissa Nogueira do E. S. Padovani Mussoi – CEO da Códice, consultoria em gestão da informação. Texto criado em 26 abril 2020, para a live realizada no instagram @psi.milenaaragao em 06 maio 2020. Para maiores informações, clarissa@codiceconsultoria.com.br – 55 54 999400560 Acesse também a www.codiceconsultoria.com.br e nossos canais no Linkedin, Facebook e Instagram como @codice.consultoria