Texto por Januaria Cristina Alves
No artigo publicado na semana passada, CANCELAR OU NÃO: SERÁ ESSA A QUESTÃO?, tratei de um tema polêmico e dos mais “quentes” do momento: a tal da “cultura do cancelamento”. E, como tem acontecido toda vez que alguém toca nesse assunto…. “senta que lá vem história”! Ou seja, é absolutamente contraditório que o cancelamento suscite tanto debate! Esta é a matéria-prima do livre pensar, da expressão aberta dos indivíduos em uma sociedade: se há ideias, elas podem – e devem – ser diferentes, distintas, desiguais, incongruentes. Elas não precisam nem devem ser iguais e lineares. E é justamente por isso que volto ao assunto nesse segundo artigo.
Talvez pelo fato de o texto estar circulando no blog de uma editora, as questões de “cancelamento” de alguns autores e obras vieram à baila. Escritores podem ser cancelados? Obras literárias podem ser “esquecidas” ou ignoradas? Em nome de que ou de quem? Eis a questão.
Só para ficar em um exemplo que agitou as redes sociais, cito o cancelamento da escritora J.K. Rowling, a autora da saga de Harry Potter, um dos maiores sucessos editoriais de todos os tempos. Em resposta, ela, e mais um grupo de 150 jornalistas, intelectuais, cientistas e artistas, considerados progressistas, resolveu publicar, na Harper’s Magazine, um texto intitulado “Uma carta sobre Justiça e Debate Aberto”. Nomes do quilate do linguista Noam Chomsky, do escritor Andrew Solomon, entre outros, assinaram a carta que afirma que “a livre troca de informações e ideias, força vital de uma sociedade liberal, tem diariamente se tornado mais restrita”. Ou seja, parece que a linha fina entre a censura e a liberdade de expressão a cada dia tem se tornado mais esgarçada, fazendo com que as pessoas confundam os limites de uma e de outra.
O cancelamento de autores, a princípio, parece ter mais a ver com as ideias que eles expressam em outros suportes que não seus livros, como as redes sociais, por exemplo, que é onde as ações de cancelamento ocorreram. Porém, no fundo, escondem algo que é mais perverso: um julgamento, uma intolerância ao oposto, ao contraditório, uma tendência infantil ao ostracismo e à livre circulação de pensamentos e opiniões.
Leia a matéria completa publicada pelo Coletivo Leitor