Texto por Barbara Coelho
Em 1989 uma doutora em psicolinguística e um Ph.D. em Engenharia Elétrica escreveram um relevante artigo sobre as perspectivas da inteligência artificial (IA) na Biblioteconomia e na Ciência da Informação. Embora não tendo sido escrito por pesquisadores da CI, esse que foi, provavelmente, o primeiro trabalho em português publicado sobre o tema na Biblioteconomia, aponta possibilidades de aplicação de dois campos da IA, sendo eles os sistemas especialistas e o processamento de linguagem natural (PLN).
A primeira vez que tive contato com este trabalho foi em 2015, quando tive a oportunidade de ver uma apresentação do Watson da IBM – já falei sobre ele aqui na matéria Computação Cognitiva: novas perspectivas para a Ciência da Informação – e depois de então passei a me questionar porque não tive acesso a este texto antes na minha graduação? ou nos eventos da área que frequentei durante o mestrado?, ou ainda nos Anais e revistas da área?
O artigo que serviu para eu abrir esta discussão hoje foi digitalizado e pode ser recuperado no portal da BRAPCI, mas continua me causando certos questionamentos internos sobre passividade da área e silenciamento do tema durante muito tempo na Ciência da Informação.
Outro dia, escutei uma bibliotecária perguntar se eu sabia qual era o motivo da IA ter demorado tanto para chegar ao Brasil. Eu respondi que não havia demorado, mas talvez a CI e, em especialmente, a Biblioteconomia não a tenham percebido ou mesmo não se via dialogando com a IA de maneira mais próxima. Mas a problemática é que na contemporaneidade nos vemos frente a inteligência artificial e constantemente desafiados a interagir com ela.
A interação homem-máquina está preste a sucumbir à observação da interação máquina-máquina. Esse aspecto não irá exigir somente dos profissionais novas formas de trabalho, mas sim requerer de toda a área novos modelos de negócio para inter-relacionar-se com a informação enquanto instituição biblioteconômica. E como estamos com relação a isso?
Frente ao que tenho pesquisado sobre o tema no Laboratório de Tecnologias Informacionais e Inclusão Sociodigital (LTI Digital), começo a perceber que a IA envolve uma “nova problematização da inclusão digital”. E diante a isso, os campos que merecem atenção do bibliotecário envolvem:
- Dados tabulares – Até o presente momento podemos vislumbrar a atividades ligadas à gestão da informação e à gestão do conhecimento;
- Processamento de Linguagem Natural (PLN) – Em campos da classificação, indexação estudos cognitivos e de mediação da informação;
- Sistemas especialistas – Apoio ao atendimento e curadoria digital;
- Interação com computação cognitiva – Interage bem com campos da representação e fontes de informação;
- Visão computacional – A experiência da abordagem documental.
Sabendo que estamos no meio do campeonato, vale salientar que pode ser que o jogo mude e precisamos estar preparados para isso. Contudo, por hora é o que vislumbramos e compreendemos que precisamos estudar tais temas da IA pensando na probabilidade de interação entre seus campos e os campos da Biblioteconomia. Não sabemos quanto tempo ainda teremos para que bibliotecários usem a IA para interagir de forma institucionalizada com a informação e os usuários, de maneira como já nos acostumamos com outros sistemas.
Saiba mais:
SIQUEIRA, I. Semeghini P.; PEREIRA, Antônio E. C. Perspectivas de aplicação da inteligência artificial à biblioteconomia e à ciência da informação. R. Bras.Bibliotecon.e Doc., São Paulo, 22 (112) :39-80, jan./jun.19.
Fonte: InfoHome – OFAJ.COM.BR